Tuesday, February 10, 2015

Insónia-memória

Dentro da insónia,
um emaranhado de videiras
Enredam nos sonhos
Um conjunto de nós;
Na casa antiga dos avós
Palavras adormecidas
Coladas nas paredes
Em cartas de amor
E fotos desamparadas
 numa triste nostalgia
em aparente vigia,
os móveis esquecidos
as camas paradas,
vidas ultrapassadas.
Os caminhos despercebem-se
Atolados em sedimentos
Acumulados nos tempos
A correr sem parar.
Uma mesa num canto
Espavorida de espanto
Acompanha o ranger
De um soalho carcomido
Sem passos a correr.
Lá fora, um malmequer
(Ou será bem-me-quer?).
Nos ouvidos, um zumbido
Do vento a esbracejar
Como um búzio perdido
Afastado do mar.