ouvi farfalhar
talvez a fuligem despresa das paredes da chaminé
um rumor
talvez a fuligem caindo das paredes da chaminé
um baque surdo
talvez a fuligem solta das paredes da chaminé
gritos presos nas asas agonizantes de susto
a agonia da prisão
o clamor
um pássaro negro de fuligem
no estertor
da escuridão
a asfixia
o coração encurralado
abram essa janela
deixem entrar o ar
o sol, o calor,
a liberdade
vai o pássaro em agonia
quase se estilhaça
contra o desespero da vidraça
corrige o rumo
fora, desata num voo livre, recto, forte
longe, longe
Sunday, November 13, 2011
Monday, October 31, 2011
Cores
dentro de um envelope azul
as palavras
fortes suaves azuis
em papel rosa
num dia cinzento
Friday, October 07, 2011
ouço os meus pensamentos a falar sozinhos
depois de te deixar à varanda a dizer adeus
o céu vagueia azul buscando os tentilhões
escondidos entre as ramagens das árvores
para isso se encheram de folhas
para esconder os tentilhões
os botões de rosa são rosas amanhã
depois de amanhã são pétalas desfolhadas
desfolham-se sobre a terra seca
esmorecidas de calor extemporâneo
quando voltares, traz-me o perfume das rosas
Wednesday, September 28, 2011
Dantes, também escrevia cartas assim
a pôr pontos nos is
a gastar-me de mim
a desgastar-me
a desgostar-me.
Agora, fecho os olhos à mágoa
ouço os pássaros, sinto a leveza
das asas espanejando no ar
e a água
do lago a borboletear baixinho
canções de amores.
Pela manhã, ando à procura,
procuro o caminho das rosas,
pressentindo que já partiram
rumo à primavera seguinte.
Encontro gotas de chuva...
... ainda há rosas no parque.
a pôr pontos nos is
a gastar-me de mim
a desgastar-me
a desgostar-me.
Agora, fecho os olhos à mágoa
ouço os pássaros, sinto a leveza
das asas espanejando no ar
e a água
do lago a borboletear baixinho
canções de amores.
Pela manhã, ando à procura,
procuro o caminho das rosas,
pressentindo que já partiram
rumo à primavera seguinte.
Encontro gotas de chuva...
... ainda há rosas no parque.
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setembro
Friday, September 16, 2011
Insónia
o sono anda vadio
foge de si próprio
vê a madrugada
subtil e espantada
e revolve os lençóis
procura o sossego
o melhor soneto
e dói a pele, a carne
escolhe entre escolhos
algas aos molhos
na espuma dos mares
sobem suores frios
na noite, arrepios
de febres e insónias
o sono anda vadio
foge de si próprio.
foge de si próprio
vê a madrugada
subtil e espantada
e revolve os lençóis
procura o sossego
o melhor soneto
e dói a pele, a carne
escolhe entre escolhos
algas aos molhos
na espuma dos mares
sobem suores frios
na noite, arrepios
de febres e insónias
o sono anda vadio
foge de si próprio.
Tuesday, September 06, 2011
Vidas
a neta
sem certeza era a neta
acompanha o avô
deixa-o à entrada,
em passadas trôpegas
seguras
compra o jornal
dirige-se a uma mesa
senta-se de óculos grossos
e lupa
lentamente como quem mede
cada gesto como quem pensa
cada segundo
estende a mão, hesita, segue,
pára, segue, puxa o jornal
como quem viu passar depressa
o passado e quer agora
segurar um pouco mais o tempo,
pressente o café na chávena.
O comboio parte. São dez e quarenta.
sem certeza era a neta
acompanha o avô
deixa-o à entrada,
em passadas trôpegas
seguras
compra o jornal
dirige-se a uma mesa
senta-se de óculos grossos
e lupa
lentamente como quem mede
cada gesto como quem pensa
cada segundo
estende a mão, hesita, segue,
pára, segue, puxa o jornal
como quem viu passar depressa
o passado e quer agora
segurar um pouco mais o tempo,
pressente o café na chávena.
Wednesday, August 17, 2011
Mar, o mar
só percebo o marulhar
do mar rasando a baixa-mar
espraiando-se umas horas mais.
afasto as cortinas floridas
ando de varanda em varanda
o mar o vento não abranda
já o sol aquece a areia.
descem guarda-sóis
pelas escadas de madeira
a água fria em cachoeira
enterra-se, cobra invisível.
Sunday, August 14, 2011
Praia
sou um vulto quieto
sentado numa cadeira
por dentro da moldura
da porta.
lá fora, a varanda alta
em baixo, o mar,
a linha ínfima do horizonte
em sol fogo.
a areia da praia
vai ficando só.
sou o vulto ensimesmado
não tiro os olhos
das ondas contínuas.
a luz de prata fere o olhar
a seguir desmaia e cai.
onde vai o barco à vela
que passa sem parar?
ficou a praia deserta
a noite vem sorrateira.
deixo o meu vulto
à varanda e desço.
pedimos a bebida do costume.
vamos brindar ao sol.
Sunday, June 12, 2011
Ruínas
No centro da cidade antiga,
o interior da casa quase em ruínas
foi escaqueirada à marretada.
o vento fustiga os recantos e as esquinas
deixadas agora as portas escancaradas
sorri, ali colada, capa de calendário,
no papel de parede cor-de-rosa.
Ninguém olha.
Nem os fantasmas que habitaram a casa
na casa ao lado, aquela onde as portas
dão para lado nenhum
e as janelas para um beco sem saída.
o interior da casa quase em ruínas
foi escaqueirada à marretada.
A parede ainda de pé ao fundo
foi em tempos coberta de papel rosa;o vento fustiga os recantos e as esquinas
deixadas agora as portas escancaradas
as janelas desassombradas, devassadas;
a imagem da jovem seminua , sofisticadasorri, ali colada, capa de calendário,
no papel de parede cor-de-rosa.
Ninguém olha.
Nem os fantasmas que habitaram a casa
quiseram saber o que se vai passar a seguir.
Saíram sem olhar para trás e encafuaram-se na casa ao lado, aquela onde as portas
dão para lado nenhum
e as janelas para um beco sem saída.
Friday, May 20, 2011
Instantâneos
O velho vai andando
cabeça baixa
mãos atrás das costasolhando,
aqui e ali
pára,
veio beber
nas pétalas das rosas
o alívio da solidão,
se alguém lhe diz bom dia!
levanta os olhos, sorri,
leva as mão ao coração,
agradece o gestobem haja pela sua palavra!
como se o dia se enchesse de luz,sabe, as pessoas já não falam como dantes,
andam num ritmo muito agitado,
por isso é gratificante a sua palavra.
Choveu.
Voltará a chover não tarda.
O velho encaminha-se para casa.
Leva as mãos atrás das costas
e um brilho nos olhos,
levanta a cabeça para o céu,
espiando as gotas de chuva.
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primaveramaiorosas
Saturday, May 14, 2011
Suspiro
ouço os meus pensamentos a falar sozinhos
depois de te deixar à varanda a dizer adeus
o céu vagueia azul buscando os tentilhões
escondidos entre as ramagens das árvores
para isso se encheram de folhas
para esconder os tentilhões;
os botões de rosa são rosas amanhã
depois de amanhã são pétalas desfolhadas
desfolham-se sobre a terra seca
esmorecidas de calor extemporâneo.
Saturday, April 16, 2011
Tuesday, March 29, 2011
Coisas da vida
ontem ficaste a olhar a lua
enleado nos céus escuros,
sem saber a lucidez das coisas.
esta manhã choveu:
as flores prenderam cada gota
para lhe sugar o sangue
soltaram-na e dela escorreram
os reflexos do céu.
Saturday, March 26, 2011
Monday, March 14, 2011
A primavera... talvez
a primavera grita sob o céu ainda cinzento
a tristeza dói até à medula
caminho no chão enlameado
para onde fugiram os pássaros, que ninguém os ouve
voa de ramo em ramo um corvo
sobrevoam o lago umas andorinhas de penas negras
as gotas escorrem nos caules das árvores adormecidas
um sobressalto de primavera
numa volta do caminho
no vaso esquecido ao canto da varanda
desabrocha a medo um botão pequenino.
Friday, February 18, 2011
Saturday, January 29, 2011
Neve
o ar macio
o pássaro negro de gravata vermelhaancorado num ramo da árvore esquálida
o céu pálido
a neblina encaracolando-se no cume da serra
desce a neve
na quietude do cinzento.
Tuesday, January 11, 2011
sonho
deste-me uns lençóis às flores,
quando eu não tinha chão;
prendeste-me nos braços, quando eu caí à procura de uma estrela;
lançaste um papagaio de papel para eu ver o céu...
Wednesday, January 05, 2011
Nevoeiro
no caminho, seguem-me os meus próprios passos
as gotículas do nevoeiro trespassam-me os sonhos complexos
a chuva entranha-se nos meandros oníricos das manhãs...
as gotículas do nevoeiro trespassam-me os sonhos complexos
a chuva entranha-se nos meandros oníricos das manhãs...
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