com uma mão no peito
através
do caminho estreito
afastando as silvas
tropeçando
nos arbustos invasores
até à casa dos bisavós,
a casa em ruínas
as paredes ainda de pé
abrigavam árvores novas,
o sobreiro antigo engrossou
a figueira velha medrou
a videira apoiada ao choupo
mirrou
de tristeza entre devoradores
trágicos dos miasmas
de antepassados fantasmas;
o velho encostou o corpo
à parede
estendeu as mãos, quis rodear
todas as vidas passadas,
o tempo escorreu-lhe
entre os braços,
as vidas passam
tão depressa,
ainda ontem saí desta casa
cheia de gente
à procura do mundo,
agora regressei
e já não encontrei
ninguém...
o telhado há muito caiu
ruiu
a chaminé, na pedra do lar
na cozinha de terra batida
nem as marcas das cinzas
vingaram...
o velho lançou um olhar
ao sobreiro que restou,
à figueira, ao choupo preso à videira,
retrocedeu mais encurvado
pelo caminho estreito
a mão no peito,
a reter as lágrimas na garganta,
o tempo corre danado
como torrente
indomável ...
a mão no peito
pelo caminho estreito
arrimado
às lembranças,
as lágrimas
presas na voz,
a mão no peito
pelo caminho estreito...