Saturday, December 19, 2009

Prenúncio de neve



sumiu-se
o canto dos pássaros
no estridente assobio
de vento gelado...

Tuesday, December 15, 2009

carta

o homem envia uma carta
que não escreveu,
não aprendeu
a ler.

Graus... negativos

o sol finge conforto
no frio marcado a branco
geométrico
na sombra do banco
de madeira,
em todas as sombras.

Thursday, December 10, 2009

Manhã simples de Outono



o céu riscado

de branco-giz

o velho sentado

ao sol de outono

no banco de pedra

rabisca na aragem

morna e quieta

versos sem rima

de tempo ou sonho

que imagina

tranquilo e feliz…

Wednesday, December 09, 2009

Duplicado


a luz fugidia
filtrada
pelas nuvens cinzentas
da manhã serena
suaviza
o ar parado,
nem um sussurro
da folhagem;
o canto dos pássaros
sossegado enternece,
a realidade revela-se no lago,
em duplicado,
o comboio partiu
sem ruído,
vazio,
ninguém procura
outros sóis, outra paragem;
o alecrim floresce
no canteiro selvagem.

Saturday, December 05, 2009

Dia de chuva

a noite chegou a meio da tarde
trouxe o nevoeiro do cimo da serra
e cobriu de frio a face da terra
o lago, o rio, o mar, a árvore...
amanhã choverá o dia inteiro
a clarear a alma angustiada,
descerá a prece da madrugada
e a água vai engolir o nevoeiro...
como quem chora sem saber porquê!

Monday, November 30, 2009

Frio


o frio arde sobre as águas do lago

a conversa flui à lareira

o vento corre desatinado

como se procurasse eira ou beira

onde se abrigar da aragem da serra

a noite cai escura; tu chegas e apenas

entardece nas palavras certas.

Thursday, November 19, 2009

Muro


Sigo o meu caminho habitual,
encontro o sentido proibido
prantado no meio da rua.

Ignoro o sinal?
escolho outra estrada
sem escolhos à vista?

Encolho os ombros
de cinismo puro?

Volto atrás
a ganhar alento?

Salto o muro.
Ponto.

Perguntam: qual muro?
Um muro. Invisível.
Mas estava lá.

E os pássaros?
Sei lá!
Voaram.

Tuesday, November 17, 2009

Depois da tempestade




depois da tempestade
escorre subterrânea a água,
a terra respira saciedade,
os pássaros voam em bandos
eufóricos da bonança,
as pedras magoadas
de granito cinzento,
o lago quieto hoje
espelha árvores
ao contrário.

Friday, November 13, 2009

Pesadelo


Contorciam-se enroscadas umas nas outras
as cobras.

Acordei: estava presa num qualquer lugar esquecido,
as portas não abriam,
gritava por ti sem voz
e não ouviste o meu pensamento.

Acordei: chovia e o céu cinzento oprimia a terra,
que não respirava nem gerava flores.


Acordei: quatro caminhos e eu sem saber o destino.
O comboio nem sequer partiu para lado nenhum.

Quero adormecer e acordar nos teus braços.

Monday, November 09, 2009

Contra a corrente


vou contra a corrente
desço ao fundo da memória

a resgatar vestígios da minha história.


cruza um pássaro a voar

diante do meus olhos.


ainda não chove,
as aves pressentem a chuva

no perfume do vento.

Wednesday, November 04, 2009

Viagem

andavam empurrados
por fortes ventanias
de terra em terra;
de quando em quando,
em momentos de acalmias,
ainda lhes tremiam
as pernas de lutar
contra os vento desorientados,
encontravam um lugar
momentâneo e abrigado
dos ares furiosos e das neves;
sabiam que não era para sempre,
amarravam as árvores ao chão
para não voarem à procura
de uma nesga de céu, quando
se adivinhava vendaval;
não sentiam compreensão
naquela viagem sem destino,
sem levar objectos nem amigos,
não havia tempo de os guardar,
eram para eles um sonho fugaz;
um dia, cada um, por cansaço
ou escolha, encontraram a paz
num canto e sentem prazer
em ficar mais e mais,
embora a alma de nómadas
de antigamente continue inquieta;
então, fogem através das montanhas
sem pensar, sem ventos nem tempestades,
e procuram o mar; depois, regressam,
não sabem se é para ficar.

Sunday, November 01, 2009

Sonho


caiu uma chave
ao fundo do poço.

um véu de folhas
amarelas desceu
e cobriu a entrada.

nunca mais ninguém
encontrou a chave.

Wednesday, October 21, 2009

Cinzento-luz

está uma linda manhã cinzento-luz
( a luz brilhou na tua voz alegre
logo cedo do outro lado
sem o torrencial da água!) ,
o pássaro esconde-que-aparece
entre as gotas no silvado,
a chuva cai mansamente
tão mansamente a cantar
baixinho que nem o silêncio
mexe no verde-árvore
dos salgueiros junto ao lago.


Monday, October 19, 2009

Outubro


a luz fresca da manhã azul-miragem
a aragem de franzir o estômago
o prenúncio do aferrolhar o corpo
em outra roupagem,

uma esplanada no âmago
da cidade quieta em sopro
de vida translúcida e amarga,

só apetece entrar no comboio e partir.
Lá para onde o horizonte abrir
em liberdade ilimitada.

Tuesday, October 13, 2009

Pássaros


trago no olhar o canto dos pássaros
e nos cabelos um fio de brisa fresca
volto tão leve que me apetece voar
(quem sabe se não voei?)...

Wednesday, October 07, 2009

Depois da tempestade


depois da tempestade nocturna

não me conformo nesta prisão sem grades;

se não decido partir, como vou conhecer

os cinzentos indecisos espalhados pelos céus,

como vou saber as árvores desfalecendo

em gotas e folhas e o ribeiro descendo

envolto em lama e espuma,

e como vou seguir o vento alvoroçado

sem bússola nem norte

ou os pássaros estonteados de água,

como posso encontrar o caminho?

quero ler o espanto das gentes,

quando eu atravessar o temporal.

vou partir, livre como um verso,

serei árvore e seiva

sem criar raízes num lugar só.

Outono



Esfuma-se em brumas avalónicas a cinzentura do dia,

descolam-se as gotas das nuvens

e poisam a embalar a vermelhidão de folhas,

cânticos desfeitos em águas cristalinas

ecoam na montanha invisível,

deslizam pelas pedras endurecidas,

nem fio de vento passa entre as divindades

ocultas de rochedos e águas.

Saturday, October 03, 2009

Outono



o outono vai escorrendo verão pelas horas de sol
traz à solta uma brisa de crianças e pássaros
finge pinturas nas folhas amarelo-avermelhadas
e bonançosas crescem as rosas lá onde os botões
pequenos coloridos riem de primaveras passadas!

Tuesday, September 22, 2009

aparência


manhã magnífica
de pássaros, rosas
amoras e flores silvestres,
parece que a terra
rima facilmente
com alma pacífica,
não fosse o olhar
que emperra
nos títulos garrafais
e tristes dos jornais,
não fosse o submerso
fundo lodoso do lago
perturbar o equilíbrio
ténue do universo.

Saturday, September 19, 2009

Pássaro e rosas



o som do sino

um longínquo sinal

chega de uma igreja

que não sei

ouço os pássaros

não os vejo

apenas os entre-sonho

nos ramos gotejados

da chuva matinal.

o homem de chapéu

na cabeça quedou

sentado inclinado

no banco de pedra

leva as mãos ao rosto

(cansado do caminho que fez

ou do que tem para andar?);

páro o olhar nas gotas

caídas pelas folhas

e flores, olho outra vez

e o homem já abandonou

o momentâneo lugar

de paragem.


à passagem,

meto na boca duas

amoras maduras;

sento-me no chão lento

de palha amarela,

não quero espantar

o pássaro pousado

no galho mais alto;

sigo o céu cinzento

que amanhã não

será mais igual,

amanhã volto contigo!


sem me esconder,

roubo rosas e pássaros

para pôr nas fotografias.

Thursday, September 17, 2009

noite


a noite fez-se mesmo uma antiga noite de breu sem luz, sem velas, sem candeias, sem sinos,
apenas a noite do princípio dos tempos: clarões abrasadores arrasaram a escuridão
por momentos claros; pressentiu-se a queda das gotas ao longe antes da real percepção
da chegada em aluvião
da chuva carregada de cheiros

a manhã chegou limpa
límpida
acalmou o pó nos caminhos
e os pardais entrecruzam os voos e os cantos
de ramo em ramo como se tivesse chegado a primavera…

Sunday, September 13, 2009

pássaros


ar morno
trovoada no ar
nuvens em castelo
anda um corvo
negro a voar
flores pequenas
amarelas
entre a secura
do restolho;
as rãs escolhem
a frescura
do lago artificial
adiante ainda as amoras
maduras e negras
a chamar os caminhos
quentes e esquecidos;
onde andam os pássaros
que ninguém os ouve?
talvez à sombra quietos
a fugir das horas
batidas pelo calor.
e nisto que surpresa!
ultrapassam nossos passos
e em abraços
prendem os ramos
(nós vamos
lado a lado
e paramos)
os pássaros…

Thursday, September 03, 2009

Garça


o rio outrora selvagem

desliza águas agora serenas

as vinhas cobrem encostas

solarengas

imagem

de sangue e suor

lágrimas e sonhos

em socalcos plantados

por tempos seculares

na margem

a garça

com graça

o rapaz abraça

a jovem

navegantes

(amantes

efémeros

julgando-se eternos)

de um barco

em bonança.

Monday, August 31, 2009

pensamento


o que eu penso
muita gente pensa
a diferença
é este atrevimento
de colocar o pensamento
em palavras
no papel... virtual.

Wednesday, August 26, 2009

historieta




acordo sem horas de relógio
ainda nem o encontrei
exilado que foi
para algum saco sem fundo
abro a cortina
de elementos marítimos
saio para a varanda
e alongo o olhar sem neblina
no mar em frente
a praia ainda aparentemente
deserta
desperta
as barracas nuas ainda
um guarda-sol verde plantado
cedo na areia
e sempre o olhar no profundo
mar este sentimento
de obsessão e loucura
de conhecimento
do mais além
se calhar foi assim
que o ínclito infante
se pôs em sagres
a mão em pala, os olhos
a cismar e a cabeça
a imaginar outro mundo

regressei
à montanha e trouxe comigo
aquela imagem trago-as sempre
fecho os olhos e estou
numa varanda frente ao mar
o mesmo mar outra praia
um rochedo algas e areia
e na praia quase deserta
que desperta
pouco a pouco
duas mulheres caminham
páram e avançam
em gestos e risos
e guardam as conversas
como conchas e búzios...

Monday, August 24, 2009


corpos estendidos na areia sedentos de sol
gaivotas sem gritos inquietos espreitam o mar

ao sabor das ondas e do tempo
o rochedo
ergue-se em altar


nas horas de nevoeiros sebastiânicos
partem os pescadores


e à tardinha o sol cai em fogo

ou anuncia a noite em branco brilhante.

Tuesday, August 04, 2009

pausa

Este blogue está pasmado: é do sol... vai continuar pasmadito até finais de Agosto... boas férias, bom descanso!

Thursday, July 30, 2009

insónia

a insónia atrai pesadelos

das entranhas do mundo

anseios telúricos, apelos

das profundezas ignoradas

vulcões quase extintos

as lavas-fogo escoadas

em fantasmas não ditos

presenças pressentidas

em corpos inabitáveis

poços escuros sem fundo

monstros ingovernáveis

de almas partidas…

enquanto não emerge

a aurora e o sol não cresce

das cinzas nocturnas…

Tuesday, July 21, 2009

A lua

a lua tem sabor a noites de verão em céu estrelado estendíamos a mão e tocávamos com os dedos
na luz e nas crateras

ou ficava inatingível e descíamos das estrelas para a escuridão com muitos pontos brilhantes e o estio era um país único e tinha noites quentes e avós

Friday, July 17, 2009

relógio


guardei o relógio
não sei onde
ando assim à toa
sem horas nem desoras
guiada por ecos de luz
sombras coladas
às paredes caladas
e penumbras ocas
pelas vozes vadias
dos pássaros inquietos
o vazio das esplanadas
o nevoeiro dos sonhos
entre sonos à solta…

guardei o relógio
... só o tempo não pára…

Tuesday, July 07, 2009

Poeta

Poeta
ficcionista de sentimentos
paisagens interiores
de tormentos
e amores
espírito fora dos muros
do mundo
desconstrói-se
em pedras e chão
eleva-se
em absinto e explosão
a alma embriagada
de palavras e vida...

Saturday, July 04, 2009

Hortênsias

Apago a noite.
Durmo.
Acordo com a luz da manhã.
Cada dia, renascer
é um milagre, que não sabemos...

Na jarra bojuda, um ramo
de hortênsias
brancas, rosa e azuis...

Thursday, July 02, 2009

dia perdido

perdi um dia;
procurei-o
por toda a parte,
encontrei-o trancado num sótão
sem chave possível...


Wednesday, June 24, 2009

Vou ali...

Vou ali e volto já!
Até terça!!!

Monday, June 22, 2009

Medos

o tempo
ultrapassa-me
num desconcerto
tenho medo
de ir até ali
tão perto
e ao voltar
já não me encontrar!

Monday, June 15, 2009

Sem sentido

o sábado inteiro
-há quem passe a vida inteira-
à procura de um sentido
para a vida

e se não há sentido?
se a vida não é uma passagem?
nem vale de lágrimas
nem desfiladeiro nem cruz?

se a vida é simplesmente
sentido proibido
miragem
caminho de sombras sem luz
nem chegada nem partida
palavra sem direito a erro
desterro
precipício
delírio
beco sem saída
naufrágio
jogo sem princípio
nem fim?

se é apenas o tempo
de uma rosa florir
efeito borboleta
equilíbrio de balança
o eclodir
de um ovo
gota de sangue
uma bênção
dos avós
uma criança sorrir
passo de dança
a chuva cair
a água gelar
a queda de uma folha
uma decisão
a sós
desgosto de amor?


o tempo
de um suspiro
o cansaço
uma palavra
um abraço?

será breve
sempre
o tempo

será mais leve
se alguém estiver
à nossa espera?!

… entretanto,
num tempo
de um pranto,
de um riso,
de um cheiro,
um segundo impreciso,
três mulheres colhem flores de sabugueiro…

Friday, June 12, 2009

Prémio Lemniscata

da kaótica http://opafuncio.blogspot.com/
"O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.


Sobre o significado de LEMNISCATA:

LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.”


Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)


Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de "Pérola da cultura"


Segundo as regras este prémio é para ser atribuído a 7 blogues.

Levem-no os primeiros sete visitantes...

Thursday, June 04, 2009

Passeio

Saio
para um passeio
o caminho ladeado
de pássaros,
esperam por mim,
saltam do meio
dos arbustos e das flores,
levantam voo
até mais à frente
voltam atrás,
voltam à direita,
giram à esquerda,
sobem e descem
passam em tangente,
ziguezavoam,
equilibram-se
num ramo frágil,
baloiçam,
espreitam da árvore,
escondem-se em cantorias,
fogem, regressam,
descem em voo baixo,
serpenteiam,
tonteiam,
esperam...
e recomeçam
as traquinices,
passeio num caminho
ladeado de pássaros...

Monday, June 01, 2009

Crianças


Os pássaros novos algazarreiam em coro de brincadeiras e chilreios escondidos nos ramos ou voam poisando no chão sobem entre as folhas escapando ao calor
procuram a sombra logo pela manhã


as crianças em roda
debaixo da árvore comem uma maçã

Tuesday, May 26, 2009

Fim de semana


pedrada
na rotina
a água
em círculos
suaves
os mercados
as catedrais
as conversas
as calçadas
ancestrais
a água
retoma
a superfície
tranquila
a rotina
os pássaros
aos pares
voam
do chão
florido
dois melros
amarelos
saem ao caminho

Saturday, May 16, 2009

Ponto-pássaro























Era um ponto.

Parecia um pássaro.

Era um pássaro.


Parecia um ponto.



um ponto perdido?


um pássaro ferido?



dei um passo


estendi os dedos


o pássaro acordou


do seu ponto


no céu ficou


um pássaro

ou um ponto

ao longe!

Friday, May 15, 2009

Aniversário


Era a mãe e a filha
em viagem
a criança a (dis)correr
silêncios
no quadro da paisagem
muito quieta
ensimesmada
e a mãe:
então, filha,
vais tão calada?

e a criança, baixinho,
para não espantar
os espíritos
os sonhos as urzes
da serra:

schiu! Estou a pensar!...

e caiu entre elas

um momento
único cúmplice e lento
de eternidade
que ficou só

entre elas…

Monday, May 11, 2009

Chuva


acompanhou-me a chuva sem surpresa

duas asas negras de estorninhos
num voo apressado
e solitário

nenhum outro pássaro
a voz encharcada
esconderam-se no arvoredo

molhadas as pontas do cabelo
a chuva na cara


perto, os carros mastigavam o chão.

Tuesday, May 05, 2009

Manhãs




ai o estio destas manhãs
a jogar às escondidas
os pássaros e eu
os grilos e as rãs
as aves a cruzar
o ar à frente atrás
em direcções várias
eu atarantada
a correr por uma foto
a rã a fugir na água
verde estagnada
o pássaro veloz
em voos de dança
acrobática
os grilos camuflados
numa cantoria danada
e o verão quase ...


Wednesday, April 29, 2009

Manhã com pássaros e gotinhas


o cheiro a frio cortado
o jardineiro abraçado
à árvore
as papoilas ensimesmadas
os pássaros e eu a passar
as flores miudinhas
tímidamente a espreitar
entre os verdes
as gotas pedrinhas
de cristal polidas
soberbamente engastadas ...



Monday, April 27, 2009

Folha ou pássaro


Sonhei
( ou estava acordada?)
com uma árvore
as folhas verdes muito verdes
de primavera
a baloiçar a baloiçar
uma folha verde muito verde
soltou
as amarras
e as asas
encheu o peito de ar
e pôs-se a voar
o tempo fugaz
já não era agora
mas depois
quando voltei
a olhar
já só vi as folhas
numa dança ritmada
de risos sussurrados
acordei os sentidos
e não sei mais nada...




( tirei
uma foto
invento:
umas más
outras menos más
outras sofríveis
e são todas incríveis
de impossíveis
imitações
nunca mais ninguém
estará naquele lugar
àquela hora
com o meu olhar...)
alguém viu o pássaro
ou estive a sonhar?



Sunday, April 26, 2009

Pássaro


as nuvens em danças no céu

eu pasmada

os pássaros

corriam voavam entre as folhas recentes

as árvores

acarinhavam pássaros e folhas

os pássaros eufóricos paravam um momento

um momento

passava em voo entre os ramos

os pássaros

escapavam-se a rir infantilmente cínicos

um pássaro

ficou parado um instante...

Friday, April 24, 2009

Abril


Jogavam as crianças
no recreio
eu jogava também
tão criança como elas
só um pouco mais crescida
sem saber nada da vida
veio o Director
(nesses tempos aprendia-se com obsceno rigor
a palavra proibir)
a jovem professora não podia
andar a saltar à corda e rir
depois Abril aconteceu
com mudanças
e sonhos e esperanças
o Director desapareceu
nunca mais ninguém o viu
(assim se respirou
fundo
foi assim que percebemos
o que era
liberdade)
...
até hoje
( ainda é Abril
mas tenho sonhos inquietantes
proibir
voltou a ser moda,
agora,
em nome de várias (in)seguranças):
volta à escola
o director!...
as crianças já crescidas ainda vão poder jogar à corda?

Sunday, April 19, 2009

Papoila


Andava eu a passear os pensamentos
nisto, vi uma papoila, tão só, tão perdida
no destempo que nem olhou para mim,
ficou para trás, vermelha e esquecida,
na solidão de verdes serenos e tenros...
( a papoila não ficou na foto, porque se acabou a bateria entretanto...)

Wednesday, April 15, 2009

Roubei uma ideia talvez




na ponte pedonal


corre o vento das paixões


temporãs


escritas em letras erradas


as gotas da chuva limpam


o ar


as ervinhas recolhem


as gotas


ontem eram flores


hoje frutos imaginados


roubei um ramo de alecrim


não sei o nome das outras plantas


do jardim


alguém imaginou isto ontem


o que eu vi


agora


ou já o li


um dia


algures num poema


romance


ou pedra do caminho


Saturday, April 11, 2009

Chuva de Páscoa


acordaram os pássaros

estremunhados

estranhamente nos ramos,

as gotas tamborilavam


as saudades sobre os telhados,


fortes e cadenciadas


batiam às portas e janelas,


sonolentas e fechadas,


a chuva acalmava o pó


das gargantas da terra...

Thursday, April 09, 2009

Um clip


Um simples clip
nas mãos certas
uma espécie de magia
um botão original
e uma fotografia!...

Monday, April 06, 2009

Luz de Primavera



Quero tomar um café,
não o quero tomar de pé,
ao balcão, numa pressa,
quero a chávena sobre a mesa,
e eu sentada
numa esplanada
virada para o mar
e a luz do fim de tarde
brilhando na calma...

Monday, March 30, 2009

Neve


Desarrumadas as ideias desta manhã

emaranhou-se o vento nos ramos
floridos e caíam as pétalas brancas
no caminho: como neve!

Sunday, March 22, 2009

Espera


Não acendas ainda o sol,

espera mais um pouco,

deixa-me ficar em botão

esta primavera, embrulhada

nas pétalas enroladas

de cetim em penumbra

calculada, deixa-me ficar

em algodão na crisálida

a sonhar a fantasia e a luz,

as asas de seda da borboleta,

à procura da canção mais bonita

da palavra mais certa, do gesto

mais puro, deixa-me ficar,

espera, não acendas ainda

o sol...

Wednesday, March 18, 2009

Primavera


A primavera em borbotões esquiva-se aos braços do inverno e acolhe-se a um março quente e extravagante...

Wednesday, March 11, 2009

Vou ali...


... e já venho! Fiquem bem...

Monday, March 09, 2009

Dança


na noite (des)iluminada de estrelas
e candeeiros baços
as sombras das árvores
dançam nas graníticas paredes
da casa em ruínas
e evocam fantasmas
nos corpos insones…

Wednesday, March 04, 2009

Aniversário



( 2 imagens da net)


hoje
chove…
quando nasceste
o dia chegou
com certeza
lindo de luz
faiscando
sobre a baía
da nossa infância
estrelejando
de alegria e ânsia…

não me lembro do sol
só me lembro
de uma criança
pequena
muito pequena
morena
muito morena
que seria
sempre
minha companhia
e o meu farol…


(a casa lá está
frente ao mar
as palmeiras
cresceram primeiro
que nós
ainda se avista
o rasto
das traineiras
e no ar
ainda se sente
às vezes
na nossa mente
o perfume
das ervilhas de cheiro)