Saturday, November 13, 2004

Em Novembro...recordando Setembro!!!

A esta hora , a luz deixa um estranho rasto dourado sobre a terra : são as cores amareladas das árvores, os telhados sobre o casario branco, os campos o horizonte... e foi por causa desta cor bizarra de um final de tarde que evoquei mais uma vez aquela recente viagem à infância, em que vivemos uma semana de paz e sol no sossego de fins de Setembro... Lá fomos nós à procura desses tempos. Da outra vez, já lá tínhamos ido, armados de máquina fotográfica emprestada, por acaso , com rolo, não como da outra vez, que nem rolo a máquina tinha, mas, por isso mesmo , mais irritante e mais decepcionante ainda, porque a máquina é que não estava em condições... enfim , daquelas peripécias que podem estragar o prazer de um bonito passeio. Desta vez, não : tudo foi calmo e tranquilo, com máquina e tudo. Bem, ainda não com aquelas máquinas sofisticadas que agora existem, mas uma máquina com rolo , que tirou mesmo fotografias, o que já de si , atendendo às anteriores experiências, já era um grande passo... um grande progresso!!!
Enfim , serpenteámos por aquelas arribas de um e outro lado do rio Douro. Valia-nos a beleza das oliveiras derreadinhas, carregadinhas de azeitonas já a “pintar” para espanto do especialista na matéria!!! E laranjas a usufruir, na paisagem verde, do privilégio do microclima da região... E, nesse encantamento ( menor para quem conduzia) , subimos nós a estrada, com o rio lá no fundo, cada vez mais longínquo a perder de vista, cruzando com raros automóveis, até terras de Guerra Junqueiro, a “ terra mais Manuelina “ de Portugal...... E lá estava outra vez e sempre a Escola Primária, como se chamava naqueles tempos até se perder um dia de vista que primária queria dizer primeira e se substituiu o nome por razões variadas, entre elas porque deixou de ser a primeira e , a maior parte das vezes, a única e incompleta... Mas isso são outras contas de outro rosário e é o progresso e tal e tal! Lá estava ela , enorme ainda , incomparável, na minha vida, com aquela arquitectura ( até o “especialista em azeite já a reconhece na televisão, quando a vê como cenário de alguma notícia daquelas terras !!!) de exame de 4ª classe, porque, por isso me ficou na memória... à qual alio aquela cerimónia toda com júri e tudo e o melhor vestuário, na deslocação à vila... com as mães todas à espera dos filhos e dos resultados ( o Capitão Ferreira também lhe anda associada, mas isso são histórias de outras vidas!!!) . Almoço, claro e passeio pelas ruas silenciosas , até nós falávamos mais baixo, sem querer, mulheres à porta das casas, bordando, e espantámo-nos com dois ou três turistas que por ali deambulavam... Tudo limpo, luminoso, sem pressas... Encetámos caminho até Lagoaça, momento para contar mais peripécias, como aquela em que o Pai resolveu, num dia de neve, alugar um táxi e ir até Mazouco por altura das arrematações dos enchidos e o carro ficou preso na neve e foi preciso ir cortar pernadas de pinheiros para que pudéssemos seguir viagem e, quando, finalmente, chegámos ao destino, foi o espanto do arrojo e o nosso foi o facto de não haver neve nenhuma , à medida que se ia descendo em direcção ao rio...
Em Lagoaça lá estava, virada para a praceta, a casa de portas vermelhas, mas agora estão pintadas de verde! E também já não está lá o fontanário, onde íamos buscar água. Confirmei isso com as pessoas que por ali estavam sentadas na conversa para eu não ficar a pensar que a memória me andava a pregar partidas!!!
Hoje vou ficar por aqui, porque foram muitas e intensas as recordações de Lagoaça e, embora não as vá rememorar todas – não saberia ! – elas merecem umas notas descansadas e só quem viveu lá ou quem , como nós, passou por lá naquela tarde de um Outono de Verão, consegue compreender porquê....